Sunday, July 02, 2006

Dia da monda

Dia da monda

O filho do meio do António Maria percorria o caminho que vai da rua de Adou de Cima, passa pela Ladeira e segue campo fora até junto do rio Antuã, muito perto do palheiro do Ferraz; nesse dia seguia à frente da carroça puxada por uma vaca turina. Chegado ao rio passou-o a vau, desatrelou a vaca que iria pastar na margem, e, logo se juntou ao pai, ao Zé Ilano e à mãe e tia deste que já mondavam o milho. Esta tarefa não era das mais pesadas, mas hoje, uma criança como era o filho do meio do António Maria, não seria capaz, seria trabalho infantil; na altura não, era fazer do rapaz homem! Carregava molhadas para a carroça, seguras depois com nós que nunca aprendeu, com “adibal” curto que a carga não era grande.
Novamente a vau se atravessava o rio e rumo a casa a vaca já sabia o caminho pelo que o filho do meio do António Maria fazia a viagem em cima da carrada. Teria que ter cuidado junto à loja do Ildefonso pois aí já passavam carros: aí uns dez por hora e todos os cuidados eram poucos. Antes ainda teria que parar na passagem de nível da Ladeira pois a guarda da linha já tinha recebido a indicação para fechar a cancela pois o comboio foguete vindo de Lisboa estava para passar. A vaca perdia o ritmo, mas para o filho do meio do António Maria era uma alegria ver o comboio passar, e maior seria se em vez do foguete passasse a máquina negra a vapor puxando carruagens de madeira com plataformas abertas.
Chegado a casa a sopa era comida sofregamente e o bacalhau cozido com batatas e couve já esperava junto ao borralho.
Finda a ceia, rezava-se o terço e os pés eram lavados na celha de madeira. O sono chegava rápido…


Adibal - Corda grossa para segurar a carrada.
Turina - bovino de raça leiteira.