Sunday, November 13, 2011

COCHIM





Passando este mês o aniversário do único bispo com origem em Salreu, aqui deixo imagens antigas do que foi a sua diocese:

Saturday, May 31, 2008

Frei José da Soledade - Bispo de Cochim

É tão raro aparecerem dados ou relatos sobre este Bispo que acabou por viver e morrer em Salreu, que não resisto a publicar uma cartasua, enviada ao governador do arcebispado de Cranganor, Tomás Catanar Pareamakel, da qual tomei conhecimento, agradecendo a quem possa me enviar dados sobre este bispo de Cochim.


Rmo Padre Governador!
Tenho recebido nestes dias as suas ultimas cartas, e visto tudo quanto
nellas dis. Eu nao posso ser extenso na scripta, nem dizer tudo, porque
podem ser apanhadas as cartas, e hir nas maos dos Propagandistas,
ou Franciscanos, por isso somente lhe digo, que na vista tudo lhe direi
quanto há, e ficará V. Rma muito bem satisfeito, e contente; alem de
que essa gente Malabar não cre senao, o que ve, e sao filhos e christaos
de S. Thomé, que também tinha a mesma falta de fe, e somente cria o
que via. Por isso me remeto ao tempo, que tudo mostrara a V. Rma,
e a todos, sem que eu me cançe em dizer novidades que poderao
ser suspeitas. Somente lhe digo que se os Malabares ficarem firmes
assim como estao, nestes dous annos, ou tres, verao sahir do Malabar
todos os Propagandistas. o que tudo lhe mostrarei à vista. Sobre
Franciscanos, nada tem elles conseguido, mais que a sua ruina. O que
V. Rma diz de Fr. Eugenio he certo, mas fique calado, que tudo tem
tempo. deixe falar o Frade, e mais os Propagandistas, porque todos
falao ja de desperados, e he maxima do Malabar espalhar mentiras.
o Snr Arcebispo ha de ficar tratando de conseguir o vinho e trigo,
porque agora como entrao as ferias dos Tribunaes pella festa do Natal,
ja nao tenho tempo para concluir nada; mas fique descançado que se
fara toda a diligencia. a minha demora nesta capital, é procedida da
necessidade, que tenho de preparar varios papeis para Roma e Lisboa,
tudo por os fins que V. Rma quer, porque o Snr Arcebispo nao entende
as cousas como eu, e tbm nem tem havida fregata que va pa o Sul, e
tenho de hir em huma mesma fregata com o Snr Bispo de Meliapur,
que vai desembarcar em Coulao, para hir por terra pa o Seu Bispado,
e chegaremos Sem falta em Coulon athe os ultimos dias do Janeiro;
rezao porque V. Rma faça pa aquellas partes de Coulao alguma
visita de Igrejas para podermos falar, dizer lhe tudo como está bom,
e entregarlhe o seu dinheiro de quarteis e seminario, e juntamente
dar ordens aos Catanares a quem va dispondo pa as tomar, Logo que
chegarmos ahy. Entao Sabera toda a verdade, e nao crea em mentiras
Malabares. o Snr Bispo de Meliapur he falso Levar os Franciscanos
consigo para o Seu Bispado, e somente leva hum, que he seu Parente.
os mais todos que vierao de lá, ficao no Convento. nem podem sahir
para fora. Somente o Provincial pedio ao Snr Arcebispo Bispo de
Meliapur que dese huma Igreja a Fr. Eugenio no seu Bispado. o que
ele lhe concedeu com Licencia do Snr Arcebispo. mas quando nao
va, fica outra vez excomungado, nem nunca o Snr. Arcebispo nem
Governador de Goa permitirá cousa alguma a Fr. Eugenio contra o
que Eu quizer, ainda que o Rey faça quanto fizer. ainda que V. Rma
veja La chegar hum Carmelita Propagandista para Ser Sagrado em
Varapoli, e para Bispo de Bombayn, nao faça cazo porque quando elle
chegara ca, ja todos os Propagandistas, e elle serao lançados fora de
Bombayn; porque veio ordem de Inglaterra pera entregar as Igrejas
de Bombayn aos PP de Goa e ao Snr Arcebispo, e nestes dias sahirao
todos os Propagandistas de Bombayn lançados fora pello Governador.
Tambem ja tenho do mesmo Governador de Bombayn ordem pera
elles nao entrar na Anjenga, e pera outras Cousas, e ja foy a mesma
ordem pera Rezidente de Anjenga. Com que fique descançado, assim
como em tudo mais, porque tudo tenho feito e conseguido, e somente
a inconstancia dos Malabares pode perder as cousas que tenho feito, e
ninguem mais, mas entao quando assim seja e esses seus diocesanos
desfaçao, o que com tanto trabalho tenho feito, a nada mais fico
obrigado, e nunca mais tornarei a procurar nada por elles. nestes
dias partio daqui um gentio mercador para tratar da negociaçao
com o Rey de Travancor, eu tenho feito nesse ponto qto podia, mas o
preço das Cousas nao agrada a este Estado, e por isso nao Sei o que
Será. Recomende-me muito ao Matu Taraguen, e diga-lhe que fique
forte, firme e constante, que tudo havemos de concluir como temos
assentado a rispeito das cousas do Arcebispado, e Propagandistas. he
precizo lá fazer-lhes toda a guera possivel, para que elles nunca possao
dizer a Roma, que sao favorecidos dos Reis de Cochim e Travancor,
pois elles os tem lançado fora das Igrejas de seus Limites.
Nao faça misterio de eu me demorar aqui mais hum mez ou menos
porque as Cousas todas querem tempo e occasiao para se fazerem; e ja
que vim aqui, e tenho gasto tanto e trabalhado tanto, seria loucura de
nao concluir todas as cousas e vir ou hir como vim. neste anno nao veo
de Lisboa nehum vinho de Misas porq tudo venderao em Mozambique
Mas ha muito vinho Bordò do qual Levaremos algum. veo ordem de
Lisboa para me entregar os Candelabros, que trazia o Snr Cariate, a
farei pellos Levar, se bem que tenho medo de que no desembarque
quebre algum. mas paciencia. tudo o mais fica pa a vista e Deos guarde
a V. Rma muitos annos. Palacio de Goa 3 de Xbre 1788.
Rmo Pe Governdor do Arcebo
de Cranganor.
DrJBispo de Cochim

Saturday, November 17, 2007

A Cobaia

A loja do senhor Benjamim era um tesouro, um daqueles tesouros antigos e escuros; situada no Largo da Igreja de Salreu, logo depois da casa do Dr Simões (casa arte nova), era um amontoado de coisas úteis para o povo da terra: enxadas, engaços, ancinhos, funis, canecos, celhas, pregos, sulfato, lixívia, enxofre e rebuçados dos bichos.
O filho do meio do António Maria bem tentava, mas os seus dois cruzados nunca foram suficientes para o "bacalhau". Dizia-se que os carimbados estavam colados no fundo da lata... mas para se venderem os outros.
Hoje vê-se lógica, o senhor Benjamim percebia do negócio, pois o filho do meio do António Maria desejava a "cobaia".

Saturday, February 24, 2007

SOPAS DE CAVALO CANSADO




“Sopas de cavalo cansado” eram consideradas, pelos contemporâneos do António Maria, como um dos melhores revigorantes para o árduo trabalho da maioria dos habitantes de Salreu nesses anos dos terceiro e quarto quartos do século XX.
Hoje, poucos são os da idade dos netos do António Maria que saberão sobre “sopas” ou esse “trabalho”.
As sopas de cavalo cansado, normalmente servidas ao pequeno-almoço ou à noite, consistiam em migas de “bola” ou broa regadas com vinho de Salreu e açúcar; havia ainda, se a “bola” estava quente, lhe juntasse um pouco de banha. O filho do meio do António Maria muitas vezes a comeu, por gosto, mas sem banha.
O “trabalho” esse é hoje impensável pelos netos do António Maria. Como exemplo podiam-se ver os ainda crianças ou mais velhos, à soga das juntas de bois puxando a charrua que lavrava os arrozais, no mês de Fevereiro, com a água pelas coxas ou até pela cintura…
Mas essas crianças não deixaram de ser homens, melhores talvez do que aquelas com catorze anos que são expressamente autorizadas pelos pais a sair da escola para poderem fumar um cigarro, pois na escola e bem não é permitido.
Ah António Maria “dum raio” que o foeiro voava logo, não era? Lá onde estás podes imaginar isto?
Tu não esperarias, mas o filho do meio do António Maria espera que estes também dêem homens…

Friday, December 15, 2006

Então é Natal

Então é Natal
E o que você Fez?
O ano termina
E nasce outra vez
Então é Natal
A festa cristã
Do velho e do novo
Do amor como um todo
Então, bom Natal
E um Ano Novo também
Que seja feliz quem
Souber o que é o bem
E então é Natal
Pro enfermo e pro são
Pro rico e pro pobre
Num só coração
Então, bom Natal
Pro branco e pro negro
Amarelo e vermelho
Pra paz, afinal
Então, bom Natal
E um Ano Novo também
Que seja feliz quem
Souber o que é o bem
Então é Natal
E o que a gente fez?
O ano termina
E começa outra vez
Então é Natal
A festa cristã
Do velho e do novo
Do amor como um todo
Então, bom Natal
E um Ano Novo também
Que seja feliz quem
Souber o que é o bem
Hare rama a quem ama
Hare rama já!
Hiroshima...
Nagasaki...
Mururoa...

Monday, October 30, 2006

o "seu" e o "outro" bispo

O filho do meio do António Maria foi historiador por um dia. Meteu-se-lhe na cabeça investigar quem o bispo que teve casa em Salreu; sabia vagamente que seria bispo de Cochim no reinado de D. José I, degredado pelo Marquês de Pombal, e pouco mais.
A partir destes dados encontrou o "seu" bispo: D. Clemente José Collaço Leitão. Este foi de Cochim, foi degredado pelo Marquês de Pombal, e tudo encaixava... encaixava mas não encaixa pois o bispo que morou em Salreu, na casa onde depois viveu o professor Miguel Lemos, nas Laceiras, foi D. frei José da Soledade.
Todo este engano foi proveitoso para o filho do meio do António Maria: aprendeu mais uma lição e ficou a conhecer a história do Padre Malagrida, personagem fascinante que acabou garrotado e queimado na fogueira no auto da fé de 21 de Setembro de 1761.
Depois disto tudo o filho do meio do António Maria ainda pouco sabe do "outro" bispo, o D. Frei José da Soledade, porventura carmelita nascido em 1740 e falecido em 1825.

Sunday, September 24, 2006

Pardaleira


As ratoeiras não eram propriamente para ratos; eram de arame e em dois tamanhos, a maior para melros e a mais pequena para pardais.
A dos melros era atada a uma estaca e dissimulada na terra fresca da margem sul da levada do areeiro, pois era aqui por entre silvados de amoras silvestres que os melros apareciam tanto ao amanhecer como ao anoitecer.
A dos pardais era mais comum e era aquela que o filho do meio do António Maria mais usava, tanto nas terras da marinha, como da gândara, como ainda dos quintais da sua rua.
A técnica era igual para as duas: nas canas do milho procuravam-se as lagartas que eram atadas ao gatilho da ratoeira, tendo o cuidado de não usar uma linha branca, pois os pardais dessa desconfiavam. Abria-se com muito cuidado e fazia-se deslizar até à pontinha o arame, dentro da argola do gatilho. Com a mão aplanava-se a terra, pousava-se a ratoeira, e com muito cuidado esta era dissimulada. Agora era só esperar.
Normalmente os pardais morriam com força do fecho da ratoeira, mas também se podia dar o caso do pardal ser apanhado pela asa ou pela pata; neste caso apertava-se o pescoço com força, ou torcia-se enquanto as asas iam batendo cada vez com menos força.
Nesta altura o filho do meio do António Maria perdia todo o interesse pela caçada. Pior que isto, era a ratoeira apanhar uma “lavrandeira”, esse pássaro saltitante, de rabo comprido, a que os miúdos foram ensinados a não matar, talvez pelo facto de não frequentar as eiras dos lavradores, ou então pela qualidade da sua carne ou ainda talvez, pela sua beleza.
Caraças, será que ainda seria capaz de torcer um pescoço?
Nha…
Também não interessa, já não há “pardaleiras”.