Sunday, September 24, 2006

Pardaleira


As ratoeiras não eram propriamente para ratos; eram de arame e em dois tamanhos, a maior para melros e a mais pequena para pardais.
A dos melros era atada a uma estaca e dissimulada na terra fresca da margem sul da levada do areeiro, pois era aqui por entre silvados de amoras silvestres que os melros apareciam tanto ao amanhecer como ao anoitecer.
A dos pardais era mais comum e era aquela que o filho do meio do António Maria mais usava, tanto nas terras da marinha, como da gândara, como ainda dos quintais da sua rua.
A técnica era igual para as duas: nas canas do milho procuravam-se as lagartas que eram atadas ao gatilho da ratoeira, tendo o cuidado de não usar uma linha branca, pois os pardais dessa desconfiavam. Abria-se com muito cuidado e fazia-se deslizar até à pontinha o arame, dentro da argola do gatilho. Com a mão aplanava-se a terra, pousava-se a ratoeira, e com muito cuidado esta era dissimulada. Agora era só esperar.
Normalmente os pardais morriam com força do fecho da ratoeira, mas também se podia dar o caso do pardal ser apanhado pela asa ou pela pata; neste caso apertava-se o pescoço com força, ou torcia-se enquanto as asas iam batendo cada vez com menos força.
Nesta altura o filho do meio do António Maria perdia todo o interesse pela caçada. Pior que isto, era a ratoeira apanhar uma “lavrandeira”, esse pássaro saltitante, de rabo comprido, a que os miúdos foram ensinados a não matar, talvez pelo facto de não frequentar as eiras dos lavradores, ou então pela qualidade da sua carne ou ainda talvez, pela sua beleza.
Caraças, será que ainda seria capaz de torcer um pescoço?
Nha…
Também não interessa, já não há “pardaleiras”.

1 Comments:

At 3:47 AM, Blogger JCC said...

Olá. Cheguei até aqui procurando por "pardaleira", como chamávamos na minha aldeia a espingarda de carregar pela boca, fabricada artesanalmente. Vejo que na sua se aplicava à "ratoeira" com que caçava pardais. A essa, chamávamos "costela", termo que motivou uma das minhas primeiras alcunhas: Zé da Costela.

 

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