Tuesday, December 13, 2005

Promessa

O filho do meio do António Maria, então com dezassete anos, pediu aos pais para ir fazer uma promessa a Fátima, não a pé, mas na Florette vermelha do António Maria, uma vez que a sua velhinha Famel Foguete, que trabalhava a gasolina bruta do Amoníaco, talvez não aguentasse tal viagem. Muito a custo lá conseguiu a permissão, mais fácil para a promessa que para a Florette, e abalou estrada fora, passando de raspão por Fátima e só parando na padaria dos pais da amiga Irene, em Torres Novas; havia torrejana na costa, não a Irene mas sim a Ana Paula. Era Natal, talvez 26, férias da Ana Paula, bem instalado e recebido pelos pais da Irene, os dias foram-se passando rápido. O filho do meio do António Maria telefona ao Arlindo, seu ajudante no Laboratório do Amoníaco Português, para que avisasse os pais da demora.
Passa-se o Ano Novo e o que era bom tinha de acabar…
Pés, ou melhor rodas ao caminho e lá roda a Florette rumo a Salreu, quando no centro de Leiria, a PVT lhe faz paragem; sim sou o filho do António Maria responde quando interrogado. Então monte na Florette e siga-nos. Esta nunca tinha dado tanto andamento, talvez 80 à hora, chegando ao Café Central de Salreu, escoltado à frente e atrás pelos homens da PVT. Ali chegados a explicação: os seus pais estão muito preocupados com o seu desaparecimento após uma promessa, por isso vá direito a casa.
Os amigos do café Central: é pá, o teu pai pensa que estás morto numa valeta, até puseram um anúncio no Rádio Clube Português! Quando chegares a casa vais levar poucas, vais…
Preocupado, pensa: o Arlindo não deu o recado.
Preocupado, sobe até à Universidade das Laceiras, vira para a Avenida, passa o cruzamento do Mato e, lá ao fundo, o António Maria, reconhecendo o som da sua Florette, pula e grita. O seu filho do meio ainda não sabe, mas logo descobre, quando ao chegar ouve: “o A. está vivo! o A. está vivo! E abraça o seu filho que chega da promessa…