Friday, March 11, 2005

Folar de seis ovos

A proximidade da Páscoa de 1961 traz o filho do António Maria numa alegria constante, antevendo uma deslocação a Canelas onde o pai do Alberto “Espeta” teria, à sua espera, um folar de seis ovos e um corte de fazenda para um fato. Desde que se lembra o filho do António Maria, o Alberto “Espeta”, colono no Congo Belga, nunca esqueceu o afilhado. A deslocação seria feita a pé, sempre pela esquerda como lhe recomendou a Beatriz, de forma a poder ver os carros que vinham de frente, que nessa altura eram poucos, talvez uns dez durante cada viagem.
Todas as casas estavam gravadas na memória desde o ano anterior, quase todas bem juntinho à estrada, mas uma de azul muito claro com portadas de madeira pintada de branco, era mesmo um marco na memória, dentro do terreno com um bonito jardim na frente.
Saído da estrada nacional entrava-se na rua principal de Canelas até uma bifurcação junto à casa do senhor doutor Albino, onde a dúvida se instalava: pela esquerda ou pela direita? Parava-se, procurava-se no sótão da memória e, lá estava a casa alta com um cume de rendilhado cerâmico… era por aí, pela direita.
Batia-se na porta que logo se abria e após responder a umas perguntas de ocasião, passava-se à sala onde a mesa estava pronta para receber o afilhado e principalmente o Padre; comia-se uma amêndoa, respondia-se a novas perguntas e carregava-se, na saca de pano branco, o folar de seis ovos.
Chegou o dia de Páscoa de 1961 e o António Maria, logo cedo avisa que os pardais eram muitos e que era preciso ir fazer barulho. Referia-se a enxotar pardais da sementeira de arroz, nuns canteiros então feitos junto ao rio Jardim, já do lado de Canelas. E foi assim que o filho do meio do António Maria passou o dia de Páscoa, batendo num caldeiro e esperando a chegada da hora de recolher dos pardais.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home