Friday, March 11, 2005

CINCO MINUTOS DE INTERVALO




… cinco minutos de intervalo? Ora estende lá essas mãos. Ai!... um minuto; ai!...dois minutos; ai!... três minutos; ai!... quatro minutos; ai, ai!... cinco minutos e acabou o intervalo, não é menino?
O filho, na altura mais novo, do António Maria tinha a cara branca como vela de estearina e as mãos vermelhas como grãos de romã; o professor Baltar, esse tinha a cara da cor das mãos do menino, cor de um sentimento que até hoje o então menino não descobriu.
O António Maria vivia, com a Beatriz e os seus ainda dois filhos, na Rua de Adou de Cima, logo acima da senhora Ercília e da Capada. No dia anterior ao das mãos cor de romã, o menino então com oito anos, saiu da Escola Domingos Joaquim da Silva, saltitou pela Avenida de covas e poças de água e juntamente com outros meninos colegas de escola, imaginou e formou um pequeno circo entre a eira e o cabanal de sua casa, imitando os trapezistas do Circo Cardinali, que tinha assentado arraiais num terreno mesmo em frente ao Largo da Igreja. Cansado da brincadeira o filho então mais novo, do António Maria, subiu vara a vara, até ao cimo do cabanal e anunciou: cinco minutos de intervalo.
O professor Baltar, que vivia numa casa alugada vizinha da do António Maria, ouviu e nada disse. Nada disse nesse dia, mas ao outro dia, ainda antes de corrigir os “deveres de casa”, lá estava ele com a cara da cor das mãos do menino.
…cinco minutos de intervalo.

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